O contributo relativo dos hemisférios cerebrais para o processamento da informaçãoemocional é desde há muito um tópico de debate, encontrando-se as evidênciascientíficas actuais polarizadas em torno de dois modelos dominantes: a Teoria doHemisfério Direito, por um lado, e a Teoria da Valência, nas suas versões clássica erevista. A primeira defende um predomínio global do hemisfério direito em todas asformas de processamento afectivo. A segunda defende a lateralização à direita doprocessamento de emoções negativas e à esquerda de emoções positivas e, na sua formarevista, a especialização do hemisfério esquerdo para emoções com orientaçãocomportamental de aproximação e do hemisfério direito para aquelas envolvendo umadisposição comportamental de afastamento. Um limite comum aos dois modelos,assinalado pelo acumular de evidência sugestiva de uma natureza essencialmenterepartida do sistema que suporta o processamento emocional e do papel neledesempenhado pela comunicação entre hemisférios, é a imagem excessivamentesimplificada que fornecem deste processamento e em particular da natureza dasassimetrias cerebrais.Esta dissertação propôs-se estudar as formas de lateralização do processamento daexpressão facial de emoções na perspectiva mais geral da organização cerebral desseprocessamento, e em particular no quadro de um funcionamento integrado dos doishemisférios. Inclui para o efeito três fases experimentais que utilizam o paradigmametodológico do Campo Visual Dividido (CVD) para obter a estimulação selectiva,unilateral ou bilateral, dos hemisférios, e o registo simultâneo de variáveis fisiológicasde natureza central (EEG) e periférica (GSR, ECG, Respiração). A primeira faseenvolve uma tarefa clássica de CVD envolvendo a localização do campo visual deapresentação de uma face emocional (com uma face neutra apresentada ao campo visualcontralateral). Este estudo distingue-se de outros anteriores pela inclusão da surpresa,cujo estatuto quanto à lateralização preferencial se tem mantido ambíguo, pelamanipulação da intensidade emocional como um factor, pelo registo simultâneo devariáveis fisiológicas centrais (SNC) e periféricas (SNA), e pela extensão damonitorização EEG a outros territórios corticais além dos frontais. Na segunda fase, o paradigma CVD foi adaptado a uma tarefa de integração de informação, requerendo acombinação da informação fornecida por um par de faces emocionais, exprimindo amesma ou diferentes emoções, selectivamente apresentadas a um só hemisfério. Ospadrões de integração resultantes das respostas comportamentais e do registo daativação cortical (alpha-event-related-desynchronization: α-ERD) em diferentesterritórios foram analisados através da metodologia da Teoria da Integração daInformação, e os efeitos de lateralização emergentes interpretados nesse quadro. Aterceira fase retomou a metodologia CVD adaptada numa tarefa de integração deinformação requerendo a combinação de informação emocional fornecida agoraselectivamente a cada um dos hemisférios (estimulação selectiva bilateral).Globalmente, os resultados revelaram padrões de lateralização complexos – variáveis deacordo com a categoria emocional, dimensões específicas da expressão facial daemoção, a intensidade de expressão emocional e os territórios corticais considerados –,bem como a natureza largamente bi-hemisférica deste processamento, sem prejuízo damanifestação consistente de assimetrias hemisféricas relativas. Com base nos resultadosencontrados, combinados com outra evidência científica disponível, propõe-se um novomodelo conceptual de lateralização hemisférica e de organização cerebral da percepçãode expressões faciais de emoções – Modelo de Organização Cerebral Integrada - ,susceptível de articular de forma natural os dois modelos dominantes da lateralizaçãohemisférica do processamento emocional e o conjunto da evidência empírica que lhestem estado associada.
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