Pesquisadores e suas táticas discursivas no debate sobre popula??es tradicionais e prote??o à biodiversidade

摘要

O debate em torno da rela??o entre biodiversidade e popula??es tradicionais encontra-se hoje extremamente dividido. Tal ambiente polarizado se expressa na interface que marca o fazer científico e a a??o política de pesquisadores que se interessam pelo tema. Como tentarei mostrar, um dos efeitos desse fen?meno tem sido a cristaliza??o de uma controvérsia geral: de um lado, uma busca por evidências por parte dos que defendem a tese de que popula??es tradicionais sempre depredaram a natureza; de outro, esfor?o semelhante de cientistas que passam a procurar evidências que comprovem que tais popula??es protegem a biodiversidade. Como resultado, temos um debate em que cientistas e suas pesquisas tornam-se armas de convencimento poderosíssimas. Como num julgamento, suas pesquisas servem para acusar ou defender popula??es tradicionais e/ou áreas protegidas, as quais cumprem o papel de rés ou de vítimas. Como decorrência, especialistas que investem nesta discuss?o s?o chamados constantemente a fazer escolhas argumentativas. Será justamente sobre elas que me aterei no corpo do artigo. Visando acessar o universo discursivo perito sobre políticas de apoio às popula??es tradicionais e políticas mais estritas de prote??o à biodiversidade, tomo os antagonismos que daí emergem como laboratório para observar a dinamica de argumenta??es e contra-argumenta??es que se seguem. Ao final, problematizo a possibilidade de que, ao discutir a quest?o a partir da lógica do “ou isto ou aquilo” (popula??es tradicionais “conservam” ou “destroem” biodiversidade), há grande chance de que as infindáveis contesta??es de parte a parte nos levem a uma controvérsia analiticamente estéril.