Neste artigo analisamos, com base na contribui??o teórica de Simmel, o fen?meno da reprodu??o da pobreza enquanto fen?meno social recorrente em diversas espacialidades e temporalidades, os significados da caridade religiosa em geral e especificamente a promovida pela Igreja Católica (IC) em seus projetos de “Natal sem fome”, em interface com os discursos da Igreja sobre o Programa Bolsa Família (PBF). Os dados empíricos em que nos baseamos foram coletados por meio de uma série de visitas a igrejas do Semiárido Brasileiro (SAB) (regi?o de Catolé do Rocha e S?o Bento/PB) e da realiza??o de entrevistas semiestruturadas com uma amostra n?o probabilística de 10 padres da regi?o citada, além de analisar material de conversas informais com beneficiários do PBF quando da ocorrência do pagamento do benefício antes e depois daquilo que se denomina como sendo o décimo terceiro do Bolsa Família (BF) e abono natalino nos estados da Paraíba e Pernambuco, em 2019. Ressaltamos que, na atual conjuntura política, o SAB apresenta uma configura??o em que: (1) a ordem caritativa persiste forte, dado que o acesso a programas de distribui??o de renda, a exemplo do PBF, n?o resolve a supera??o da vulnerabilidade social das camadas mais pobres da popula??o, o que garante a continuidade do “mercado dos pobres”, interessante para diversas religi?es, ONGs e políticos que transformam em moeda de troca eleitoral aquilo que apresentam como combate à pobreza; (2) a burocratiza??o controlativa do programa citado tem se intensificado, agudizando a defini??o de miserabilidade que torna os indivíduos aptos a serem incluídos como beneficiários, embora em um ritmo e abrangência gradualmente mais limitados, fortalecendo o acesso aos direitos sociais fundamentais com base nas regras do jogo estabelecidas pelo mercado.
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