Invisíveis e hipervisíveis: moradores de rua no espa?o público urbano, midiático e político no Brasil

摘要

Neste artigo analisamos as dinamicas associadas à condi??o dos moradores de rua em grandes cidades brasileiras de, ao mesmo tempo, permanecerem escassamente visíveis e estarem superexpostos nos espa?os públicos: urbano, midiático e político. Adotamos a abordagem da sociologia de problemas públicos para mostrar como o fen?meno social e urbano morar na rua precisou ser identificado, delimitado, analisado e se tornou uma quest?o para a qual a sociedade passou a demandar tratamento. No processo de forma??o e na evolu??o de um problema público podem ocorrer descontinuidades, rupturas, muta??o, e a superposi??o ou convivência de camadas de elementos que pareciam superados. O entendimento da quest?o, tal como as estratégias de a??o, está sujeito a mudan?as, pois o fen?meno pode evoluir assim como os atores envolvidos. Apresentamos aqui um breve histórico da percep??o e tratamento do tema no Brasil, com destaque para a mídia, o poder público e a existência de diagnósticos, levantamentos estatísticos e eventos de discuss?o sobre o tema no país. Enfatizamos que o fen?meno da vida na rua é multidimensional e heterogêneo, em raz?o de aspectos estritamente demográficos, ao observar as etapas do processo que leva uma pessoa a tornar-se morador de rua, ou ainda porque há grande diversidade na forma como os indivíduos vivem a trajetória de chegada e permanência na rua. Ao final do artigo concluímos que a defini??o e a delimita??o do fen?meno morar na rua e sua operacionaliza??o em indicadores mensuráveis, confrontados com a realidade no cotidiano das cidades, esbarram em situa??es que questionam os enquadramentos para os propósitos das políticas públicas quanto a quem é o morador de rua. As fronteiras s?o móveis ou difusas, pois existem faixas porosas, assim como s?o porosas as formas de tratamento do fen?meno, o qual deixou de ser tratado apenas com repress?o à mendicancia ou higienismo urbano para, também, ser tratado como gest?o social, assistência, direito à vida e combate às drogas. Tudo isso ao permanecer como um problema sentido no cotidiano e com capacidade para afetar aos demais moradores da cidade.