Após um século da ênfase nos processos mentais inconscientes dada por Freud, estes se tornaram largamente aceitos, e, nos últimos anos, na verdade tem se verificado que o maior mistério reside na natureza da consciência. A distin??o entre a consciência no sentido de coma/vigília, no sentido de consciência moral e no sentido da sensa??o de existir e estar vivenciando algo, encontrou respaldo nos avan?os da neurociência. Esta última acep??o, o "sentimento do que acontece" nas palavras de Damásio, presente durante o sonhar e ausente em certos estados de vigília como nas crises de ausência, é a propriedade de certos processos mentais que mais tem sido alvo de estudo. Evidências recentes sugerem que tanto a sensa??o de continuidade da consciência quanto a impress?o de que ela preceda a tomada de decis?o seriam ilusórias. Também a antiga cren?a de que a consciência fosse uma fun??o dependente de um funcionamento cortical global tem sido questionada. A evolu??o da consciência a partir dos mecanismos de homeostase, como um feed-back sofisticado dos processos mentais que permite a detec??o de erros nas predi??es realizadas pelo cérebro sobre o self e o ambiente, com a possibilidade de corre??es em partes do processo mental sem a necessidade de descartá-lo por inteiro, s?o exemplos das modernas compreens?es sobre este tema, e que têm importantes implica??es para a clínica psicoterápica. Neste trabalho, os autores revisam algumas das principais teorias recentes sobre a consciência, sua natureza, fun??es, aspectos evolucionistas, rela??o com a linguagem, com os sistemas de memória e com a quest?o da integra??o dos diferentes inputs e registros mnêmicos numa cena unificada do self interagindo com o ambiente, salientando que, embora já tenhamos alguns desenvolvimentos muito interessantes, a compreens?o do tema ainda está nos seus primórdios.
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