A iniciação, enquanto modelo protótipo, é inerente à condição humana pontuada por uma sequência ininterrupta de “provas”, de “mortes” e de “ressurreições”, fazendo emergir o tema da “morte iniciática” que permite ao neófito aceder a uma vida espiritual superior – aquela em que é possível a participação no sagrado” (Eliade, 1976: 38).Assim sendo, vamos encontrar o tema da iniciação em muitos dos contos de Charles Perrault, de Hans Christian Andersen, dos Irmãos Grimm, de Lewis Carroll, de Carlo Collodi, entre outros. É igualmente recorrente nas lendas, como a do rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda. É na perspectiva de Mircea Eliade que nos colocamos para tratar do tema da iniciação, ilustrando-a n‟As Aventuras de Pinóquio que, como salienta Italo Calvino (2004: 212-214), pode ser objecto de múltiplas interpretações e, obviamente, de interpretações complementares que só enriquecem o sentido instaurador do respectivo conto (Gabriele, 1981: 43-46; Todini, 1981: 53-58; Grassi, 1981: 71-92)1. Neste contexto, começamos por apresentar o sentido eliadiano do ritual iniciático e, depois, procedemos à hermenêutica de uma passagem significativa do conto de Aventuras de Pinóquio de Carlo Collodi – a passagem do tubarão2 – para melhor percebermos como neste conto o ritual iniciático se concretiza e interpela o imaginário educacional. Por último, desenvolvemos o significado da iniciação no quadro do imaginário educacional, recenseando-o como renovação espiritual, como eufemização e superação da morte e como reencontro do homem consigo mesmo.
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