Segundo o paradigma da diversão (Delaney, Sahakyan, Kelly, & Zimmerman, 2010), a ocorrência de um pensamento diversivo entre duas listas de palavras, afeta a evocação das palavras da primeira lista. O presente estudo tem como objetivo principal avaliar o desempenho mnésico de adultos idosos no paradigma da diversão, recorrendo à descrição do cenário ancestral do paradigma de processamento de sobrevivência (Nairne, Thompson, & Pandeirada, 2007) como pensamento diversivo, em vez de uma memória autobiográfica, como sucede no paradigma da diversão original. A amostra é constituída por 72 adultos idosos, com idades compreendidas entre os 65 e os 75 anos, sem declínio cognitivo não normativo e sem sintomatologia depressiva. O procedimento utilizado no paradigma da diversão modificado consistiu na apresentação de duas listas de 32 palavras (16 palavras cada) e, no intervalo após a apresentação da primeira lista e antes da apresentação da segunda, foi incluída uma tarefa: devaneio, no caso do grupo experimental (N=36), em que o sujeito teria de imaginar que estava perdido numa floresta de uma terra desconhecida, sem quaisquer mantimentos ou recursos de sobrevivência e durante os próximos meses teria de encontrar meios para sobreviver, e leitura rápida de um texto, para o grupo de controlo (N=36). Os resultados obtidos indicam um prejuízo na evocação da primeira lista no grupo experimental comparativamente ao grupo de controlo, ou seja, verifica-se o efeito amnésico do devaneio característico do paradigma original. Neste contexto, conclui-se que o cenário ancestral de sobrevivência, conhecido por propiciar um aumento da evocação ao ser utilizado enquanto modo de processamento ou condição de codificação do material a ser evocado, pode também conduzir ao esquecimento de material recentemente codificado, se usado como devaneio. Este resultado poderá contribuir para esclarecer o fenómeno do esquecimento associado ao vaguear da mente.
展开▼